sábado, 11 de outubro de 2008

Mídia ignora pequenos candidatos à prefeitura de São Paulo


São concorrentes por partidos minúsculos e com poucos minutos, quando não segundos, no horário eleitoral gratuito; além de escassa verba para campanhas.


A cidade de São Paulo teve onze candidatos disputando a prefeitura. Destes, apenas oito tiveram maior visibilidade na imprensa, seja ela televisiva, radiofônica ou mesmo a impressa. Nos debates, três candidatos foram excluídos da discussão.


Os chamados “candidatos nanicos” são de partidos pouco conhecidos. Geralmente não têm coligação, são em grande parte ligados à esquerda e com projetos e propostas polêmicas, além de forte discurso ideológico.


Mas mesmo pouco representativos, muitos já incutiram no subconsciente coletivo sua marca, algum jingle ou proposta marcante. É o caso do jornalista e candidato Levy Fidelix, do PRTB (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro), que há doze anos propõe a construção do famoso Aerotrem.


Com o slogan “Prefira o original, o resto é cópia”, Fidelix baseou sua campanha no polêmico projeto de trens suspensos, na criação de um banco central do município e de um paço municipal: “Vamos destruir a cracolândia (próxima à estação da Luz) e construir prédios com todas as secretarias municipais”, propôs o candidato, complementando a proposta de revitalização do centro da capital.


O candidato se diz vítima de outros. Eles teriam roubado sua idéia e nunca dado crédito a Fidelix: “O que o Covas chamou de Rodoanel, muito antes eu já falava do mesmo projeto, só que com o nome de anel viário”, reclamou Fidelix.


Questionado sobre o seu nome não ter sido citado nas pesquisas de intenção de voto, ele acusa os institutos de realizarem pesquisas indutivas que servem aos grandes partidos: “Não é possível que uma pessoa ouvida possa representar a vontade de 13 mil eleitores de São Paulo”, criticando o fato de que cada eleitor ouvido pelas pesquisas represente o total de 13 mil eleitores.


Além disto, critica o sistema eleitoral dizendo que não é democrático, pois apenas os grandes partidos ou coligações conseguem tempo maior na televisão para defender suas propostas. Com 5,5 mil votos, foi o oitavo colocado no dia 5 de outubro.


Já o PCO (Partido da Causa Operária) apresentou uma terceira mulher na disputa pela prefeitura, Anaí Caproni. Técnica em eletrônica, a candidata disse não acreditar em mudanças através do voto e pelas eleições. Sua campanha foi baseada na manifestação de idéias e ideologias do partido, e não em propostas específicas para a cidade de São Paulo.


Claramente não era uma candidatura que visava eleger-se, mas sim criticar o atual sistema de eleições. Questionada sobre não esperar ser eleita, ela provoca: “Quem espera quebrar o monopólio dos grandes (partidos) neste processo eleitoral?


Anaí justificou a intenção de sua candidatura explicando que quer esclarecer a população sobre o sistema eleitoral: “O processo eleitoral está viciado. Não é possível efetuar mudanças pelo voto”. Concluiu dizendo que alterações na sociedade e na política só serão possíveis com uma “mobilização popular”. Caproni foi a última colocada nas eleições, com 1,6 mil votos.


Também na mesma linha esquerdista, o histórico PCB (Partido Comunista Brasileiro) teve o jornalista e economista Edmilson Costa como candidato. Sob o lema de “Governança Comunista” para São Paulo, ele explanou sua proposta em “resgatar a cidade como um espaço público e seus equipamentos para chegar a uma sociedade socialista; com o poder popular.”


“O sistema público é melhor que o privado. O privado visa o lucro, o público serve a sociedade”. Com esta idéia, pretendia democratizar o transporte coletivo - através da criação de uma empresa municipal – com a elaboração, do que ele chamou, de “veículos leves sobre trilhos”, semelhantes aos bondes.


Sobre as eleições, declarou: “O nosso partido não acredita que vai fazer a revolução (socialista) através das eleições”. Porém, diz participar do processo por acreditar que é um espaço democrático onde há a condição de organizar a população. Concluiu dizendo que: “É uma forma de fazer com que as pessoas entendam as propostas socialistas e que há uma alternativa não-burguesa de governança”. O candidato do PCB, com 4,3 mil votos, ficou na oitava posição.


Outras quatro pequenas candidaturas concorreram ao gabinete municipal. Com 4% dos votos válidos, a vereadora Soninha Francine ,do PPS, ficou em quinto lugar. E com quase 1%, o deputado Ivan Valente, do PSOL, em sexto. Além de Renato Reichmann, do PMN, em sétimo e Ciro Moura, do PTC, em décimo.


Eles, por terem os nomes citados ao menos uma vez nas pesquisas de opinião, ganharam maior visibilidade na mídia que os demais nanicos. Por este fato, tiveram o direito de participarem dos debates na televisão (segundo regra desta), e assim puderam expor a um número maior de pessoas suas idéias e propostas.


Além dos sete citados nesta reportagem, disputam as eleições paulistanas - em ordem de apuração – o democrata Gilberto Kassab (primeiro colocado), a petista Marta Suplicy (2º), o tucano Geraldo Alkmin (3º), além do candidato do PP, Paulo Maluf, na quarta colocação geral dos votos válidos.

Reportagem feita para a matéria "
TECNICAS DE REPORTAGEM, ENTREV E PESQUISA EM JORNAL", do mês outubro de 2008.